O que houve com a igreja Saint-Jacques de la Boucherie?

Durante a Revolução Francesa, o estado completamente quebrado, tentava desesperadamente salvar suas finanças. Por isso, qualquer fonte de renda era muito bem-vinda, independente de sua natureza. E, em 1797, a igreja Saint-Jacques la Boucherie, localizada no coração da Paris medieval, foi um dos alvos utilizados para arrecadar recursos. Neste artigo, conto alguns detalhes de mais esta história de Paris que nem sempre aprendemos nas aulas no colégio. São informações sobre a antiga igreja e também sobre a torre que foi construída junto a ela e que resiste até os dias atuais. Confira:

Vale lembrar que “Saint-Jacques” equivale à São Tiago Maior (mais velho – para se diferenciar do outro Tiago, também um dos 12 discípulos), padroeiro da Espanha – um dos 12 apóstolos de Jesus; e “Boucherie” é porque a igreja ficava numa área onde se instalavam diversos açougueiros (bouchers), inclusive a construção da igreja foi financiada em parte por eles. O local que fica na margem direita do Sena só foi urbanizada na Idade Média e tornou-se lugar de mercadores e comerciantes, inclusive os açougueiros. Já a margem esquerda e a Île de la Cité, foi ocupada desde a Antiguidade.

Reprodução da obra de Leonardo Da Vinci, pintada entre 1495 e 1498, que se encontra em exposição na igreja Santa Maria delle Grazie, em Milão, na Itália.

No século X já havia no mesmo local uma capela dedicada a São Tiago para acolher os peregrinos que seguiam para Santiago de Compostela, na Espanha. Na segunda metade do século XI decidiu-se construir um templo maior, para melhor acolher os fiéis. Desta forma, a nova igreja recebeu a consagração em 1066, tornando-se paróquia em 1119, já no século XII. Segundo se conta, o complemento do nome “Boucherie” só é adotado mais de um século depois, em 1259.

No século XV foi construída uma igreja maior ainda, que inclusive foi financiada em partes por Nicolas Flamel (o alquimista que teria descoberto a pedra filosofal). Já a torre – atual Tour de Saint-Jacques – foi construída no século XVI, entre 1509 e 1523, em estilo gótico flamejante, por Jean de Felin, Julien Ménart e Jean de Revier.

Planta indica o local das diferentes edificações desde o século X.

Em 1797, em plena Revolução Francesa, a igreja, que continha uma relíquia de São Tiago e por isso atraía muitos fiéis e peregrinos, foi simplesmente vendida pelos revolucionários para um comerciante local, que pretendia demolir o imóvel e comercializar as pedras utilizadas em sua construção.

Leia também: 10 passeios em Paris para trilhar os caminhos da Revolução Francesa

Os revolucionários impuseram uma condição: a torre, até então um dos edifícios mais altos da cidade, com 54m de altura (equivalente a um prédio de 16 andares) e 300 degraus, deveria ser mantido de pé.

Leia nosso artigo sobre Nicolas Flamel, o alquimista que foi um dos mais importantes financiadores da igreja Saint-Jacques de la Boucherie

Mercado popular

Após a demolição e retirada das pedras, um mercado informal rapidamente se estabeleceu no local, o Mercado Saint-Jacques la Boucherie, também chamado de Tribunal do Comércio.

Na verdade, se tratava de um grande espaço formado por pequenas lojas construídas precariamente em madeira, sendo que sua grande maioria era de brechós, onde pequenos comerciantes vendiam diversos tipos de produtos usados, principalmente roupas. Os consumidores eram pessoas das classes pobres da cidade.

Em 1824 a torre, uma espécie de “viúva” da igreja demolida, é comprada por Mr Dubois, um conhecido fabricante de munições de chumbo utilizadas em caçadas. Segundo se conta, a altura da torre era ideal para o seu negócio, pois permitia entornar o chumbo em estado de fusão do alto da torre que, durante a queda, se transformava em gotas finas e caía em um recipiente de água.

O grande incêndio

No mesmo ano de 1824, um grande incêndio afetou seriamente o mercado (há quem diga que a fundição de chumbo teria sido a causa). O fogo rapidamente se alastrou por todo o espaço e em menos de três horas todo o mercado foi completamente destruído. Graças aos bombeiros, as poucas casas ao redor foram poupadas.

Nos dias seguintes, houve uma grande comoção entre os parisienses e uma campanha de arrecadação de alimentos e outros mantimentos foi organizada em prol das famílias que perderam seus negócios e sua pequena fonte de renda.

Confira nosso álbum no Pinterest com mais imagens da igreja Saint-Jacques la Boucherie e sua Torre.

A reconstrução do mercado

Poucos meses após o incêndio, o mercado foi reconstruído, desta vez, mais organizado e dividido em três prédios principais com dois pavimentos cada um (desenho abaixo).

O fim do mercado de Saint-Jacques de la Boucherie

No ano de 1836, a prefeitura da cidade comprou, por 250 mil francos, toda a área, incluindo a torre e o mercado. Ficou decidido que deveria ser dado um maior destaque para a torre, e para isso, as construções do entorno deveriam ser removidas.

Era o fim do mercado de Saint-Jacques de la Boucherie, que foi totalmente demolido em 1837 e deu lugar ao primeiro jardim público de Paris, que permanece até os dias atuais. Este jardim foi inaugurado por Napoleão III com a presença da Rainha Victória, que estava de passagem pela capital.

Na base da torre, foi instalada, em 1857, uma estátua de Blaise Pascal (obra do escultor Pierre Jules Cavelier), que em meados do século XVII, utilizou a torre para fazer seus primeiros experimentos e estudos sobre a pressão atmosférica, ajudando a determinar as leis da gravidade, medindo a velocidade de objetos em queda-livre.

Estátua de Blaise Pascal, instalada na base da Torre.

Restaurações

A Torre foi restaurada em 1836 e depois entre 1852 e 1858 (pelo pelo famoso arquiteto Baltard), devido à ampliação da rue de Rivoli, determinada por Haussmann. Houve ainda uma restauração em 1932. Mais recentemente, devido à rachaduras e risco de desmoronamento, foi realizada nova restauração, concluída em 2009, que custou 8 milhões de euros.

Estação meteorológica

Réplica de uma das salas da estação meteorológica, no segundo piso. Foto: Renata Inforzato.

Em 1891 a Torre foi transformada em estação meteorológica. Os laboratórios (parcialmente preservados até hoje) foram instalados no primeiro e segundo andares e as medições eram realizadas na parte mais alta.

Caminho para Santiago de Compostela

Em 1965 a Espanha presenteou a cidade de Paris com uma placa oficializando a Torre como um dos pontos oficiais de partida dos peregrinos que seguiam para Santiago de Compostela (foto abaixo).

Sim, você pode subir até o topo

No verão de 2013, a Torre foi aberta à visitação pública, o que continua até hoje, geralmente de junho a setembro. Durante as sextas, sábados e domingos, o público – grupos de até 17 pessoas maiores de 10 anos de idade – pode subir os cerca de 300 degraus até o topo (somente com reservas). A visita dura 50 minutos. Para comprar os tickets (10 e 8 Euros) CLIQUE AQUI.

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Curiosidades

Em 1856, Alexandre Dumas se inspirou nesta torre para escrever sua peça La Tour Saint-Jacques de la Boucherie.

Em 1998, a UNESCO incluiu a torre à sua lista de patrimônios mundiais, como um dos marcos no caminho para Santiago de Compostela, na Espanha.

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Importante para você:
Quais os documentos necessários para entrar na França?

Como chegar

Metrô

Estação Hôtel de Ville (Linhas 1 e 11) – o local fica a cerca de 250 m da estação do metrô. Siga pela Rue de Rivoli em sentido oposto ao Hôtel de Ville (Prefeitura) até chegar na praça.I

Estação Châtelet (Linhas 1, 4, 7, 11, 14) – caminhe cerca de 40m na Rue de Rivoli e você já avistará a torre.

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Meu nome é Rogerio Moreira, além de jornalista, sou publicitário e estudei em instituições como PUCC, Unicamp e FGV. Apaixonado por história, acredito que o estudo de nosso passado nos ajuda a entender como nos tornamos o que somos hoje. Nesse blog, busco reunir e compartilhar curiosidades e histórias incomuns sobre Paris e a cultura francesa. Dessa forma pretendo mostrar o lado quase que desconhecido da cidade, fora dos roteiros turísticos tradicionais. Vamos comigo nessa viagem?

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