Uma crônica, por Rogerio Moreira.
Terça-feira de manhã, desci do metrô as 9h52min. na estação Charles de Gaulle Étoile. Meu objetivo era uma visita ao Arco do Triunfo, a poucos metros dali. Subi as escadarias correndo para fugir daquela corrente de ar frio que se forma nas saídas do metrô. Conhecia bem este lugar de tantas outras vezes e já no fim dos degraus, você dá de cara com o grande Arco. Porém para minha surpresa, o que meus olhos viram não foi o Arco mas sim a Torre Eiffel.
Diminuí o ritmo até que parei e olhei para trás para me certificar que estava na estação certa. Por um segundo pensei que desci na estação errada, se bem que perto da Torre não há nenhum metrô tão próximo assim. Olhava para outros turistas que se dirigiam às imensas filas para adquirir os tickets de acesso – todos agindo com naturalidade. Era surreal.
Eu estava meio confuso. Caminhei de um lado a outro, olhei, olhei mas não achei nenhuma explicação lógica para o que estava acontecendo. Tive que concordar que a Torre naquela posição até que ficou bem… Que vista devia proporcionar aos visitantes… Imagine ver toda a extensão da Champs Elysées, o Jardin des Tuileries e o Louvre lá na frente… Fiquei por alí uns 15 minutos tentando entender a cena e decidi não subir.
De acordo com meu roteiro, minha próxima parada deveria ser o Museu do Exército e a Tumba de Napoleão e segui para lá.
Peguei o metrô e descí na estação Invalides e, novamente, não podia acreditar naquilo: no lugar do museu e da tumba, estava a Sacre Coeur. Sim, ela mesmo: linda e toda branca, em mármore travertino, com toda a sua imponência. Já na entrada, as estátuas equestres de Joana d’Arc e Saint Louis davam as boas-vindas. Ainda perguntei a algumas pessoas por alí, sobre o que estaria acontecendo. Parecia que elas não me entendiam apesar de meu francês não ser tão ruim assim. Aqueles que se deram ao trabalho de me ouvir, me olharam de cima para baixo, como se eu fosse de outro planeta. Uma senhora me disse que a igreja sempre estivera ali desde a sua inauguração, em 1914. Tive certeza que algo não estava certo. Imagine você, a Sacre Coeur sem aquela linda vista da cidade…
Resolvi que não iria entrar na Basílica e iria caminhar um pouco. Aquele ar gelado deveria me fazer bem me ajudar a organizar minhas ideias.
Me lembrei do Museu d’Orsay, que é um lugar que gosto muito e decidi que iria à pé até lá. Na caminhada de 16 minutos, fiquei imaginando onde estaria o Arco do Triunfo, se em seu lugar estava a Torre Eiffel? Será que eles “trocaram de lugar”? Onde foi parar o Museu do Exército e a Tumba de Napoleão? Vai saber.
Desci a Rue de Solférino, em direção ao Sena e de lá era só virar à direita e chegaria ao museu… ou deveria chegar.
Difícil de acreditar mas me deparei simplesmente com a Notre Dame, cheia de turistas que formavam uma enorme fila para entrar na Catedral. Levantando os olhos, pude ver as enigmáticas gárgulas que pareciam me observar lá de cima. Sinceramente, eu não estava entendendo mais nada e minhas mãos suavam de aflição. E o que mais me chocava era a tranquilidade das pessoas e a aparente normalidade da situação.
Depois de algum tempo refletindo, sentado em um degrau, concluí que o melhor negócio seria retornar ao hotel e para isso optei por continuar minha caminhada.
A passos lentos eu seguia pela calçada que margeia o Sena e observava os famosos bateaux cheios de turistas. Não era nem 14h ainda, mas para mim o dia já havia se esgotado. Estava realmente muito confuso e minha aposta era que “amanhã seria um outro dia”.
Em uma das travessas quase fui colhido por uma bicicleta, dessas que se alugam por toda a cidade. O senhor que a pilotava vinha tocando aquele sininho de alerta: -trim, trim- trim trim, trim-trim… Por sorte e um pouco de reflexo, parei a tempo e ele seguiu com o sininho: trim, trim- trim trim…
Nesse momento dei um pulo da cama. Era o despertador tocando: trim-trim, trim-trim-trim… O relógio marcava 7 da manhã. Só então me dei conta de que tudo não passava de um sonho. Corri para a janela, de onde podia ver, bem de longe, a Torre Eiffel. Um sentimento de alívio tomou conta de mim. Ela estava lá, no lugar dela, no lugar certo, assim como todos os outros monumentos dessa cidade maravilhosa. E eu, claro, estava também no lugar onde sempre desejei estar: num quarto de hotel com uma vista privilegiada para Torre Eiffel.
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