Os segredos da construção da Sacré Cœur, em Paris

Situada no topo da colina de Montmartre, 129m acima do nível do mar, a Basílica do Sagrado Coração (Sacré Cœur) foi inaugurada no início do século XX, após 39 anos desde o lançamento de sua pedra fundamental. Um edifício magnífico construído após a guerra franco-prussiana de 1870 e a Comuna de Paris. Diversos elementos religiosos, culturais e políticos estão quase ocultos nesta obra e passam praticamente despercebidos aos olhos da maioria dos turistas. Vamos contar um pouco dos detalhes e “segredos” da Sacré Cœur.

Se a construção da basílica é o símbolo máximo das transformações de Montmartre após o bairro ser anexado à Paris em 1860, também é necessário lembrar o passado desta comunidade, quando este pequeno subúrbio popular, que servia como uma antiga pedreira de gesso além dos limites da cidade, se tornou um problema social, com a pobreza e a falta de estrutura sanitária.

Pesquisa

Estive por diversas vezes no bairro, estudando suas histórias e os motivos pelos quais uma obra com esta magnitude foi construída justamente aqui. Conversei com populares, pessoas ligadas à igreja e guias turísticos, além de pesquisar em mais de 20 sites, blogs e outras fontes não-oficiais. O que encontrei em comum em todas as fontes é que que sempre faltava uma parte da história. Por isso resolvi coletar todas as informações que achei relevantes e escrever tudo em um só artigo.

Aqui você vai entender os motivos de sua concepção e também mostramos registros fotográficos raríssimos sobre a construção de um dos monumentos mais emblemáticos da França.

Colina de Montmartre, antes da Sacré Cœur

Guerra Franco-Prussiana

Em 1870, a esmagadora derrota durante a guerra franco-prussiana causou o fim do Segundo Império de Napoleão III. A França sai desse episódio profundamente humilhada e dividida. Este sentimento de instabilidade teria sido uma das causas da Comuna de Paris, uma insurreição que causou, em maio de 1871, mais de 30 mil mortos na capital.

A recém criada Terceira República, presidida por Adolphe Thiers, procura então unificar a nação. A religião católica, ainda muito presente à época, encontra respostas para muitos males na Divina Providência. Os sofrimentos do povo desde a Revolução Francesa seriam obra de uma vontade divina. 

Estruturas de sustentação para a obra. Pouca tecnologia, muito talento

Montmartre, integrada à Paris há apenas alguns anos (1860), ainda trazia as cicatrizes de seu passado. Durante séculos, este monte foi uma gigantesca pedreira, conhecida pela qualidade de seu gesso. Uma paisagem rústica e precária que atraiu famílias pobres do centro de Paris, para trabalhar durante as obras do período haussmaniano.

Aos poucos, a grandiosidade da obra vai se destacando na paisagem

A ideia de construir a Sacré Cœur surgiu justamente depois da guerra Franco-Prussiana (1870) como pagamento da promessa feita pelos filantropos Alexandre Legentil (empresário) e Hubert Rohault de Fleury (pintor) de erguer uma igreja caso a França sobrevivesse às investidas do poderoso exército alemão e não fosse invadida ou ocupada.

Alguns dos projetos apresentados no concurso para a contrução da basílica

Concurso

Para decidir a escolha do arquiteto, foi organizado um concurso que contou com quase 80 projetos, sob um comitê que contava, entre outros nomes, com Charles Garnier, o arquiteto da Ópera. Depois de várias eliminatórias, foi escolhido o projeto de Paul Abadie, que propôs um edifício inspirado na Catedral de Saint-Front de Périgueux, na França (século XII) e na basílica de Santa Sofia, em Istambul (construída nos anos 530). Abadie jamais veria sua obra pronta, pois ele morreu em 1884, poucos anos depois do início das obras.

Catedral de Saint-Front de Périgueux e a basílica de Santa Sofia: Inspiração para Paul Abadie

Trabalho extra

Em 16 de junho de 1875, o Arcebispo de Paris, Cardeal Guibert, lançou a pedra fundamental da basílica. Porém, por causa da fragilidade do gesso e das muitas galerias subterrâneas que serviam de pedreira, meses de trabalho adicional foram necessários para consolidar as fundações da futura obra. Foram então implantados 83 pilares com 33 metros de profundidade cada um, para dar sustentação à basílica.

Parte das obras de alicerce da basílica

Um primeiro evento de pré-inauguração ocorreu em junho de 1891, ainda sem a grande cúpula da basílica.

A conclusão

A obra foi oficialmente concluída em 1914 com a finalização do campanário (mas trabalhos complementares duraram até 1923), com um custo estimado de 46 milhões de francos provenientes de doações privadas. Os nomes dos doadores foram gravados nos blocos de pedra utilizados na construção. Sua consagração só ocorreu em 16 de outubro de 1919, após o término da Primeira Guerra Mundial.

Entrada preparada para receber os primeiros visitantes, em 1914

Sempre branca

A basílica foi construída em pedra de travertino obtida em Château-Landon (Seine-et-Marne), a 82 km de Paris. Essa pedra constantemente dispersa cálcio, o que garante a cor branca da basílica mesmo com as chuvas e a poluição. A cúpula é aberta aos turistas e reserva uma vista espetacular da cidade, mas para isso é preciso subir seus mais de 80 metros de altura com seus 300 degraus, sem elevador.

Reprodução do projeto original apresentado por Paul Abadie no concurso

Maior mosaico da França

No seu interior, na forma de uma cruz grega, encontra-se o maior mosaico da França, com  473,78 m², criado em tons de dourado por Luc-Oiliver Merson, representando o Sagrado Coração de Jesus. Em sua base, podemos ler uma frase em latim que significa: “Ao Santíssimo Coração de Jesus, França fervorosa, penitente e grata”. Por causa do seu tamanho e complexidade, sua instalação durou de 1900 a 1922.

Detalhe do maior mosaico da França e um dos maiores do mundo

Os vitrais foram instalados em 1903 e em 1920, porém foram destruídos durante bombardeios em 1944 e por fim, restaurados em 1946, após o fim da Segunda Guerra.

Estátuas equestres de Joana d’Arc e do rei São Luiz IX: símbolos nacionalistas

Estilo e simbologia

O estilo da Sacré Cœur é marcado por influências românticas e bizantinas. Possui ainda alguns símbolos nacionalistas como o pórtico, com três arcos, adornado por duas estátuas de Joana d’Arc e do rei São Luiz IX, obras assinadas por  Hippolyte Jules Lefebvre, além de um campanário com três sinos, sendo o maior deles com mais de 26 toneladas (conhecido como “la Savoyarde”), considerado um dos maiores do mundo e que representa a anexação de Sabóia (onde o sino foi construído), pela França. Seu badalo pesa 580kg e para se ter uma ideia, à época de sua instalação foram utilizados 28 cavalos para puxar o sino colina acima até o pé do campanário.

Confira nosso artigo sobre Joana d’Arc

Publicação da época destaca o sino “la Savoyarde”

O grande órgão da basílica é de autoria de Aristide Cavaillé-Coll e pertenceu ao Barão Albert de L’Espée, um grande apreciador deste tipo de instrumento. Após a morte do Barão e venda de seu castelo, o órgão permaneceu guardado por mais de dez anos até que foi transferido para a basílica, onde foi oficialmente apresentado em 1919 por Charles-Marie WidorMarcel Dupré e Abel Decaux , três dos mais renomados organistas da época.

Trabalhadores em ação durante as obras de construção da basílica

Para subir à basílica do Sagrado Coração, você pode pegar o funicular, implantado em 1900, na mesma época do metrô. Um contrapeso cheio de água era usado para a descida.

Este sou eu, apreciando a vista numa tarde de outono e coletando informações para vocês

Curiosidade

Em abril de 1944, durante a Segunda Guerra,13 bombas explodiram na Sacré-Coeur sem causar nenhuma morte.

Fotos deste artigo: Wikimedia Comons

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Meu nome é Rogerio Moreira, além de jornalista, sou publicitário e estudei em instituições como PUCC, Unicamp e FGV. Apaixonado por história, acredito que o estudo de nosso passado nos ajuda a entender como nos tornamos o que somos hoje. Nesse blog, busco reunir e compartilhar curiosidades e histórias incomuns sobre Paris e a cultura francesa. Dessa forma pretendo mostrar o lado quase que desconhecido da cidade, fora dos roteiros turísticos tradicionais. Vamos comigo nessa viagem?

1 Comment

  1. Avatar Bilmar Sousa Pires disse:

    Rogério Romero parabéns pelas histórias contadas e experiências vividas aqui na França. Fico alegre em ler fatos históricos de um brasileiro como está, desde meu bacharelado da faculdade da PUGO sou bastante curioso em saber os acontecimentos dos países como estes contados por você… Continue assim!
    Forte abraço mano.

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