Um charmoso vinhedo no coração de Montmartre

A França é o mais importante produtor de vinhos do mundo e a capital, Paris, não tem importância econômica para a atividade – mas já teve no passado. Até 1833 Paris era o maior território vinícola da Europa, com 40.000 hectares de parreiras plantadas; em 1474 chegou a existir uma DOC exclusiva, a apelação “Goutte d’Or” e durante o século XVIII Paris era o mais importante produtor de vinhos da França, passando Bordeaux.

Hoje resta muito pouco disso, mas para quem souber pesquisar vai encontrar pequenas áreas de produção vinícola na cidade. Mas o vignoble Clos de Montmartre é certamente o mais importante, por questões turísticas. Montmartre é um bairro boêmio de Paris, onde moraram pintores como Picasso, Modigliani, Toulouse-Lautrec, Renoir, Van Gogh e Gauguin e escritores como Balzac, Emile Zola, Boudelaire, Max Jacob e Apollinaire, para citar os mais conhecidos. E beber vinho em restaurantes e “bares-de-vinho” é um hábito compartilhado por moradores e turistas.

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O vinhedo Clos de Montmartre tem 1.556 m² e fica na esquina das ruas Saint Vincent e des Saules, perto da encantadora igreja Sacre Couer. Aliás, saiba que a palavra “Clos” denomina um vinhedo que é cercado por muros – sim, porque a maioria dos vinhedos não tem cercas ou divisórias, especialmente em Bordeaux.

A história deste pequeno vinhedo é curiosa: em 1933 a prefeitura de Paris decidiu acabar com a sujeira de um terreno baldio que tinha virado moradia de desocupados no 18º arrondissement, plantando 2.000 pés de vinhas das variedades mais tradicionais da França, algo assim como uma espécie de vitrine da França; a placa abaixo complementa esta história.

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Isso resolveu um problema urbano, mas a qualidade do vinho era ruim, até que em 1995 a prefeitura decidiu contratar um enólogo e investir na produção de um vinho de qualidade. Os equipamentos e o material de vinificação foram modernizados e atualmente os 1.762 pés de 27 castas diferentes de uvas (75% Gamay, 20% Pinot Noir e o resto Seibel, Merlot, Sauvignon blanc, Riesling, Gewurztraminer e outras) produzem cerca de 2.000 garrafas de 500ml cada.

Todo mês de setembro é feita a colheita, e realizada a festa da vindima – a Fête des Vendages – quando o vinho é vendido em leilão antecipado. O que sobra é engarrafado e as garrafas são vendidas entre 20 e 40 Euros dependendo da safra, como lembrança para turistas e ajudam a manter o vinhedo, que já não precisa do dinheiro da prefeitura.

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O Clos de Montmartre tem até mesmo uma confraria exclusiva, a Comenda Clos de Montmartre, criada em 1983 e que conta com 200 associados e 60 simpatizantes.

Fonte: Rogerio Ruschel – blog In Vino Viajas

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Paris Sempre Paris
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Meu nome é Rogerio Moreira, além de jornalista, sou publicitário e estudei em instituições como PUCC, Unicamp e FGV. Apaixonado por história, acredito que o estudo de nosso passado nos ajuda a entender como nos tornamos o que somos hoje. Nesse blog, busco reunir e compartilhar curiosidades e histórias incomuns sobre Paris e a cultura francesa. Dessa forma pretendo mostrar o lado quase que desconhecido da cidade, fora dos roteiros turísticos tradicionais. Vamos comigo nessa viagem?

2 Comments

  1. Avatar EMILIO F R RIVERO disse:

    Já andei por aí. Incrível como prestigiam esses locais icônicos. Festa da Vindima.

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