Você sabia?Curiosidades sobre a Torre Eiffel e a Exposição Universal de 1889

Fatos que talvez você não saiba sobre a construção da Torre Eiffel e a grande Exposição Universal de 1889.

Um tiro de canhão disparado do topo da Torre Eiffel, a audaciosa obra de engenharia fincada no coração de Paris, encerrou no final do mês passado o evento que melhor retratou esta década repleta de mudanças e inovações: a Exposição Universal montada este ano na capital francesa. O disparo estrondoso, os aplausos da multidão, as bandas e fanfarras ofereceram uma despedida à altura do sucesso da gigantesca mostra. Durante seis meses, entre a sua inauguração, no dia 5 de maio, e as cerimônias de encerramento, Paris foi uma festa. Uma festa da modernidade. Na verdadeira cidade de sonhos erguida para abrigar Exposição Universal de 1889, nada menos que 28 milhões de pessoas – uma massa humana equivalente a exatamente o dobro de toda a população brasileira na época – tiveram à sua disposição um extraordinário espetáculo. Celebram-se ali os avanços da técnica, a pujança da indústria, a diversidade das civilizações e – de maneira bem mais discreta – os 100 anos da revolução que derrubou a monarquia francesa em meio a um banho de sangue, em tudo diferente do movimento que culminou com a Proclamação da República na última sexta-feira, no Brasil.

E como se celebrou. Os números são impressionantes em sua sucessão de recordes. O primeiro, e mais notável, é a própria torre concebida pelo engenheiro Gustave Eiffel, 56 anos, com 300 metros de altura, a construção mais alta do mundo. Alem de atrair uma quantidade sem paralelos de visitantes, a mostra, com seus 61 721 expositores distribuídos em 95 hectares, ainda deu lucro. Fruto de um típico casamento à francesa entre o Estado e a iniciativa privada, a exposição custou 41 milhões de francos, mas arrecadou 8 milhões a mais, basicamente à custa de um rigoroso controle dos ingressos. Ao contrário do que acontecera em 1878, por ocasião da última Exposição Universal realizada em Paris, quando a farta distribuição de entradas gratuitas resultou num prejuízo de 31 milhões de francos para os cofres franceses, dessa vez só se cruzaram algumas das 22 portas de acesso à exposição montada no Campo de Marte com ingresso pago.

“Mas valeu a pena pagar. Entre palácios soberbos e monumentos grandiosos, todo construídos especialmente para o evento, as opções deixavam os visitantes literalmente zonzos. Logo na entrada, o Grande Domo, com sua cúpula de 60 metros encimada por uma estátua colossal. Nas laterais, dois palácios, o das Belas Artes e o das Artes Liberais, cada um com 230 metros de comprimento por 80 de largura, também adornados por cúpulas monumentais, recobertas de esmalte nos tons turquesa e topázio. Ao contrário dos ingleses, que inventaram a moda das exposições universais com a Great Exhibition realizada em Londres há quase quatro décadas e dedicada basicamente às conquistas da técnica e da manufatura, os franceses reservaram um lugar privilegiado às artes plásticas. No festival de premiações que acompanhou o evento, até o brasileiro Victor Meirelles foi contemplado.

Mais do que as obras de arte no entanto, foram as próprias construções erguidas para abrigá-Ias que encantaram Paris durante seis meses, com suas vigorosas estruturas de ferro, que abrem vastos espaços e eliminam os elementos inúteis – uma tendência arquitetônica cada vez mais predominante na Europa. “Esta exposição é o triunfo do ferro”, resumiu, com mal disfarçado tom de crítica, o pintor Paul Gauguin, a quem foi reservado um pequeno espaço para expor seus quadros exóticos num dos cafés tipicamente parisienses que acalmavam a sede dos visitantes no Palácio das Belas Artes.

Houve muita sede para acalmar. Durante todo o desenrolar da exposição, a imprensa satírica de Paris vingou-se da verdadeira maré humana que invadiu a capital francesa retratando visitantes sem fôlego, arrasados pelo cansaço, desnorteados em meio a tantas maravilhas. “Jules Verne sonhou com a volta ao mundo em 80 dias. Em 1889, ela poderá ser realizada, no Campo de Marte, em seis horas”, prometia o boletim oficial da exposição. A promessa foi cumprida. Pavilhões indianos, casas chinesas, pagodes do Sião, templos da Cochinchina – havia de tudo. Numa aldeia senegalesa, reprodução de sua matriz africana, nativas de seios nus cruzaram olhares espantados com parisienses de fraque. Na estufa, montada à entrada do Pavilhão do Brasil, floresciam espécies da Selva Amazônica que tanta curiosidade despertou no exterior. O Pavilhão do México imitava um templo azteca e o do Equador, um templo do sol, guardado por quatro rãs gigantescas e decorado com mobiliário em ouro e cristal.

Em matéria de exotismo, contudo, nada superou a “rua do Cairo”, um dos grandes sucessos da exposição. Casas minuciosamente copiadas, lojas, mesquitas e balcões de madeira trabalhada, além de um batalhão de 600 pessoas – entre ourives, padeiros, serralheiros. praticantes da dança do ventre e condutores de asnos – reproduziam em todos os detalhes uma rua da cidade egípcia. A fidelidade foi tanta que, no fim da exposição, a rua do Cairo erguida em Paris estava quase tão suja quanto a original.

“Nunca, jamais, se terá idéia do número incomensurável de refeições consumidas na exposição”, avaliou um espantado comentarista francês. “Entre 5 e 7 horas da tarde, era estarrecedor. Parecia que o mundo inteiro ia jantar no Campo de Marte.” Terminado o jantar, o público se preparava para o espetáculo mais esperado: o momento em que se acendiam as fontes luminosas espalhadas ao longo dos jardins – uma moda lançada em 1884, em Londres, e que tem tudo para pegar.

“As fontes luminosas lançam para o ar suas centelhas fulgurantes e a água ganha todas as cores do prisma”, descreveu a revista La Construction Moderne. A mesma publicação resumiu o espetáculo impressionante oferecido pela Torre Eiffel durante a noite: “A Torre, cujos arcos e plataformas são bordados de cordões luminosos, é incendiada por fogos de artifício que lhe dão um aspecto fantástico e grandioso. O colosso de ferro se ergue na noite envolto em chamas, enquanto no alto brilha o farol de três cores e os refletores elétricos projetam raios azuis sobre Paris”.

Os caminhos para chegar a esses prodígios da técnica e do espetáculo, no entanto, foram carregados de obstáculos. Desde que se começou a organizar, há três anos, a exposição que deveria comemorar o centenário da revolução de 1789, os políticos franceses engalfinharam-se numa longa discussão: como celebrar o terror e a carnificina que acompanharam a mudança de regime e ainda por cima sem espantar as monarquias convidadas para a exposição. Depois de muito bate-boca – que provavelmente se repetirá dentro de um século, por ocasião do bicentenário -, as comemorações ficaram limitadas aos “aspectos mais positivos” da revolução. A grande polêmica, contudo, foi travada em tomo da estrutura mais alta do mundo, a torre de 300 metros de altura.

“Nós, escritores, pintores, escultores e arquitetos apaixonados pela beleza até agora intacta de Paris, protestamos com todas as nossas forças contra a construção em pleno coração de nossa capital da inútil e monstruosa Torre Eiffel”, dizia o abaixo-assinado publicado no jornal Le Temps em fevereiro de 1887. Entre os signatários, que chamavam a obra de Eiffel de “torre de Babel”, nomes conhecidos, como os escritores Guy de Maupassant, Sully Prudhomme e Leconte de Lisle. Surpreso diante da reação tardia dos intelectuais – os trabalhos de fundação já iam adiantados -, Eiffel pediu apenas que se esperasse para ver “a prova esmagadora dos progressos realizados neste século pela arte dos engenheiros”. Ele estava certo. A torre, com sua estrutura esguia e elegante, 7 300 toneladas de ferro perfeitamente encaixadas, 2,5 milhões de parafusos e 1 milhão de rebites, conquistou a França e o mundo. Objeto de poemas, discursos, valsas, polcas e sinfonias, ela se transformou rapidamente no símbolo da Exposição Universal de 1889. Se for mantida onde se encontra, coisa que ainda não está decidida, pode vir a ser muito mais o símbolo da própria Paris.
Fonte: Revista Veja

‪#‎ParisSempreParis‬

Paris Sempre Paris
Paris Sempre Paris
Meu nome é Rogerio Moreira, além de jornalista, sou publicitário e estudei em instituições como PUCC, Unicamp e FGV. Apaixonado por história, acredito que o estudo de nosso passado nos ajuda a entender como nos tornamos o que somos hoje. Nesse blog, busco reunir e compartilhar curiosidades e histórias incomuns sobre Paris e a cultura francesa. Dessa forma pretendo mostrar o lado quase que desconhecido da cidade, fora dos roteiros turísticos tradicionais. Vamos comigo nessa viagem?

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *